Leia texto sobre Lincoln, filme de Steven Spielberg, publicado pela revista Carta Capital
Check a piece about Lincoln, a Steven Spielberg’s movie, published by Carta Capital magazine
Publicado pelo caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo em 1 de dezembro de 2011.
Peça com Samuel L. Jackson recria última noite de Luther King
FRANCISCO QUINTEIRO PIRES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
Quando um funcionário se aproximou, ela sentiu alívio. “Pensei que iria para o apartamento. Mas ele perguntou: ‘Você está aqui para o emprego de camareira, certo?’.”
“Um afro-americano ocupa a Casa Branca e a primeira suposição é que os negros estão na Terra para limpar a sujeita dos brancos”, desabafa.
“Raça importa, por isso faz sentido falar no assunto até destruir noções preconceituosas”, continua Hall.
Katori Hall, 30, desafiou um tabu ao escrever “The Mountaintop”, peça que recria a última noite de Martin Luther King Jr. (1929-1968), ativista influente da luta pelos direitos civis americanos.
Na Broadway até 22 de janeiro, “The Mountaintop” humaniza King, “até hoje reverenciado como santo”. O King de Katori Hall vai ao banheiro, fuma, mente para a mulher, é mulherengo.
“A minha geração tem uma visão simplista”, diz. “Mais do que integracionista, King foi um radical que pregou justiça não só entre as raças mas entre as classes. Ele denunciou o militarismo dos EUA.”
Antes da temporada na Broadway, em que é dirigida por Kenny Leon, “The Mountaintop” estreou num pequeno teatro de Londres.
Com o êxito da peça, Katori se tornou em 2010 a primeira dramaturga negra a ganhar o Olivier Award na categoria nova obra teatral.
ÚLTIMO SERMÃO
Na véspera do seu assassinato, ocorrido em 4 de abril de 1968, na frente do Lorraine Motel, em Memphis, Tennessee, King proferiu o sermão “I’ve Been to the Mountaintop” (algo como “eu estive no cume da montanha”).
No discurso, intuiu a morte próxima e disse ter visto “a terra prometida”, à qual os americanos chegariam. “Os EUA vão demorar para atingir esse ponto”, diz Hall.
A dramaturga nasceu em Memphis. Autora de dez peças, quatro das quais publicadas em “Katori Hall Plays One”, ela admite ter a cidade natal como “musa”.
“Mas eu não falo das minhas experiências. Escrevo sobre aquilo sobre que gostaria de saber mais. É o meu jeito de tornar o passado real.”
Inspirada na sua mãe, que lamenta ter perdido o último sermão, Katori criou para a peça uma camareira misteriosa (Angela Bassett).
No quarto 306, a funcionária questiona as atitudes de King (Samuel L. Jackson, o ator mais rentável da história do cinema, segundo o livro dos recordes “Guinness”).
“É desconcertante ver um homem comum em confronto com a própria mortalidade”, diz. “King foi grandioso. Mas, como todos, esteve sujeito à condição humana.”
Texto publicado no Caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo de 27 de novembro de 2011
Livro narra malhação política de Jane Fonda
Biografia lançada nos EUA revisita relação da atriz com governo, prisões, companheiros e vídeos de ginástica
Autora examina histórico policial e emocional da artista, moldada como símbolo sexual nos anos 60
FRANCISCO QUINTEIRO PIRES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
O governo americano acusou: Jane Fonda planejou a morte do presidente Richard Nixon. O plano, porém, era uma mentira plantada pela Casa Branca. A atriz e ativista processou Nixon por conspirar contra a sua reputação.
Vista como ameaça nacional desde 1972, quando visitou o Vietnã -então em guerra com os EUA- e foi fotografada ao lado dos inimigos, teve o telefone grampeado e um informante do FBI entre os seus guarda-costas.
Mais de 22 mil páginas do arquivo da polícia sobre a atriz contêm essas informações, trazidas por Patricia Bosworth em “Jane Fonda, The Private Life of a Public Woman” (a vida privada de uma mulher pública, em inglês).
Em 1970, após filmar “Klute”, Jane foi presa, acusada de tráfico de drogas – a polícia suspeitou de suas cápsulas de vitamina. Passaram-se meses até que testes provassem que as cápsulas eram inofensivas, e Jane, inocente.
Dois anos depois, ela ganharia o Oscar de melhor atriz por aquele mesmo filme, em que vivia uma prostituta.
O livro disseca a personalidade de uma mulher que é fenômeno midiático há mais de 40 anos. “Ela tem uma capacidade extraordinária de se reinventar”, diz a autora.
Patricia conhece Jane desde os anos 1960. Ela acompanhou a metamorfose de uma jovem insegura e formal em uma mulher rica e livre.
Jane, 73, tem uma personalidade volúvel e calculista, segundo a autora. “Ao mesmo tempo, anseia por aceitação.” A carência, para Patricia, é uma resposta à frieza do pai, o ator Henry Fonda, e ao suicídio da mãe, France. “Jane é perfeccionista como o pai e obcecada por sexo, aparência e dinheiro como a mãe.”
A atriz foi casada com o diretor Roger Vadim, de “Barbarella” (1968), que a lançou como símbolo sexual, com o político Tom Hayden e o empresário de mídia Ted Turner, fundador da rede CNN.
Ao lado de Hayden, negligenciou a carreira de atriz. Ainda assim, em 1979 Jane ganhou seu segundo Oscar, por “Amargo Regresso”.
“Ela usou o dinheiro ganho com vídeos de ginástica, febre nos anos 80, para pagar dívidas do marido”, diz a autora. O primeiro vídeo, “Jane Fonda’s Workout” (1982), vendeu 17 milhões de cópias.
O cuidado com o corpo, segundo Patricia, sempre foi doentio. A atriz teve bulimia por mais de duas décadas. “A forma física é essencial para a criação do seu mito.”
Abandonada por Hayden, iniciou um relacionamento com o mulherengo Ted Turner e “se sentiu anulada.”
O casamento se dissolveu em 2000, mesmo ano em que o relato de Patricia termina.
“A minha vida representa o espírito do meu tempo”, resume a atriz no livro.
JANE FONDA, THE PRIVATE LIFE OF A PUBLIC WOMAN
AUTORA Patricia Bosworth
EDITORA HMH
QUANTO US$ 30, cerca de R$ 56, na amazon.com (600 págs.)