Category Archives: cotidiano

Os esquecidos da América

Leia reportagem sobre Someplace Like America, livro de Dale Maharidge e Michael S. Williamson

Check a piece about Someplace Like America, a book by Dale Maharidge e Michael S. Williamson

 

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Hipsters só querem ser amados

Leia reportagem sobre o comportamento dos hipsters publicada pela revista Carta Capital

Check a piece about the hipsters’ behavior published by Carta Capital magazine

 

 

 

A maior loja de produtos natalinos do mundo

Veja reportagem para a GloboNews sobre a maior loja de artigos natalinos do mundo. É a Bronner’s, localizada em Frankenmuth, cidade de Michigan conhecida como Pequena Bavária.

Watch a segment about Bronner’s, the world’s largest Christmas store, in Frankenmuth, Michigan’s Little Bavaria. Globonews aired the segment.

A reportagem é de Mila Burns. E as imagens, de Francisco Quinteiro Pires.

 

Loja americana é famosa por vender Natal o ano inteiro

A gentrificação do Harlem

Leia reportagem sobre as mudanças urbanas e culturais no Harlem, bairro negro de Nova York

Publicado na edição 662 da revista Carta Capital

A invasão branca

Harlemites conversam em quarteirão da 116th Street, conhecido como Little Senegal

 

 

 

 

Grafite, o filho bastardo da liberdade e do caos

Leia reportagem sobre o ressurgimento do grafite no caderno Ilustríssima, da Folha de S. Paulo.

 

A escrita sobre a morte

Publicado na edição 659 da revista Carta Capital.

A morte lhes cai bem.

 

 

 

A morte lhes cai bem

Francisco Quinteiro Pires

Escritores e dramaturgos americanos dissecam o fim da existência humana em novos textos

Embora desconverse sobre o assunto, o jornalista americano Bruce Weber passa mais tempo pensando na morte do que a maioria dos mortais. Esse hábito não tem origem em um gosto macabro. É apenas seu ganha-pão. Weber compõe a equipe de cinco redatores fixos de obituários do jornal The New York Times. “As conversas com os meus colegas são as mesmas das pessoas normais. Perguntamos como a família está ou como foi o jogo de beisebol. Temos interesse- pelo- trabalho do outro, mas não refletimos sobre a morte e as suas implicações”, despista. Ele afirma não ter medo do fim. “Ao menos, não nesta semana.”

Recentemente, Bruce Weber revelou que essa coragem tem limites. Ele fez uma participação especial em Play Dead, peça off-Broadway que esteve em cartaz no Players Theater, no Greenwich- Village-, em Nova York. Dirigida por Teller-, da dupla Penn & Teller, Play Dead ganhou elogios ao criar entretenimento a partir da atração humana por aquilo que causa repulsa, como sangue, violência, mundo sobrenatural e, é claro, morte.

Uma das cenas da peça consiste em chamar alguém da plateia para deitar sem sapatos em uma banheira de cobre. O ator Todd Robbins (foto) escolheu Weber como vítima. Depois de fingir ter batido na cabeça do convidado com um pé de cabra, o ator jogou ácido sulfúrico no que seria o corpo agonizante do jornalista- americano-. A experiência de Weber resultou em um ensaio publicado pelo The New York Times, onde trabalha desde 1986. O obituário, ele conclui, é o texto mais criativo do jornal, pois lembra a morte como a oportunidade de transformar a vida em uma experiência interessante.

“Não posso dizer que acredito em vida após a morte ou em reencarnação. Se algo permanece após o fim, é apenas a memória cultivada por aqueles que nos amam”, diz. “Isso, enquanto estiverem vivos.” Weber não vê a existência sob um prisma espiritual ou romântico. Ele afirma ser essencial escrever sobre a morte somente porque ela é um evento universal. “Todos temos de morrer, por isso todos temos de pensar na morte”, diz. “Não por outro motivo, a leitura de obituários acaba sendo um exercício valioso.”

Nos últimos meses, a publicação de livros de memórias que abordam a mortalidade transformou-se em um filão do mercado editorial dos Estados Unidos. A explicação de Weber para o fenômeno é simples. “Parece que escritores mais ou menos conhecidos sofreram perdas quase ao mesmo tempo e resolveram relatar essa experiência. Não consigo fazer outra interpretação nem afirmar que a sociedade americana está mais interessada pela morte.” As obras Say Her Name: A novel, de Francisco Goldman, History of a Suicide: My sister’s unfinished life, de Jill Bialosky, e A Widow’s Story: A memoir, de Joyce Carol Oates, se destacam. Ao contrário da hipótese de Weber, cada escritor necessitou de um tempo próprio para processar o choque e lembrar os seus mortos. Além de aplacar a dor, os autores usaram a palavra para eternizar histórias passageiras.

Francisco Goldman escreveu Say Her Name: A novel (Grove Press, 368 págs., US$ 24), livro que emprega técnicas ficcionais para lidar com o luto enlouquecedor. Em 2005, ele se casou com Aura Estrada, escritora mexicana jovem e promissora, depois de conhecê-la em Nova York. A celebração ocorreu em uma fazenda do México. Um mês depois do aniversário de dois anos de casamento, durante um feriado prolongado no litoral mexicano, Aura sofreu um acidente- -fatal no mar. A sogra culpou Goldman pelo fato- inevitável e chegou a processá—lo-. Depois de desejar a própria morte, o escritor passou a expressar o que era inexprimível, a falta de sentido e o sofrimento, enxertando em seu relato trechos do diário de Aura. A obra é classificada como- ficção, mas a dura realidade costura os fios narrativos.

A poetisa Jill Bialosky precisou de 20 anos para fazer a mesma coisa. Ela conta em History of a Suicide: My sister’s unfinished life (Atria, 272 págs., US$ 24) como passou do caos provocado por um suicídio à conquista de sabedoria sobre a existência. A sua meia-irmã, Kim, de 21 anos, -matou-se asfixiada na garagem da casa onde cresceram juntas, em Cleveland, Ohio. A decisão pelo suicídio, ocorrido em 1990, era inexplicável. Jill se pergunta se poderia ter parado Kim. Para responder, ela se entregou a uma árdua investigação sobre o passado da meia-irmã. Traçou um perfil psicológico da suicida, que perdeu dois filhos e sempre se ressentiu da ausência do pai. “O suicídio não deve ocorrer a ninguém”, afirma a autora. “Quero que saibam o quanto eu sei sobre esse assunto. Esta é a razão pela qual escrevo este livro.” O entendimento fortalece a capacidade de suportar a tragédia, ela acredita. Ao eternizar a história trágica da meia–irmã, Jill promoveu uma ode à vida.

Em A Widow’s Story (Ecco, 432 págs., US$ 27,99), Joyce Carol Oates relata o choque e o vazio envolvendo o falecimento repentino do marido, em 2008. O casamento com Raymond Smith durou 47 anos. A escritora consagrada não era capaz de lidar com a perda de modo coerente. Em março, um mês depois de Smith morrer, Joyce começou a redigir A Widow’s Story, tendo terminado em agosto. A impotência, ela confessa, continuou mesmo depois de revolver as suas lembranças. Respeitoso, Smith jamais comentou as críticas negativas aos livros da sua mulher nem compartilhou com ela os aborrecimentos do trabalho como editor literário.

Bruce Weber nunca escreveu para o jornal sobre a morte de uma pessoa próxima. Depois de pesquisas no arquivo do diário e debates com os editores, ele decide quem foi importante o suficiente para receber um registro. Afirma não ter um redator de obituários como modelo. Nem Alden Whitman (1913-1990), obituarista do Times que teve a sua vida contada por Gay Talese em um perfil de Fama e Anonimato, merece a sua admiração. “Whitman angariou fama por escrever obituários de pessoas famosas antes de morrerem. Ele as entrevistava enquanto estavam vivas. Esse é o motivo pelo qual ficou conhecido como o Sr. Má Notícia”, diz. “Embora às vezes escreva obituários sobre pessoas vivas, não tenho o costume de entrevistar aquele que será tema do meu texto.”

Weber orgulha-se do seu obituário sobre Kim Peek. Nascido com problemas cerebrais, Peek inspirou o personagem de Dustin Hoffman no filme Rain Man (1988). Weber diz ter contado uma história completa, dúvida que se transforma em drama na cabeça do jornalista sempre correndo contra o tempo. “Esse obituário ficou comovente.” Os textos sobre a morte, acredita Weber, são cápsulas de sabedoria para aceitar o fato de que tudo acaba sem mais nem menos.

Street food

Uncle Gussy's vende comida grega na esquina da Park Avenue com a 51st Street

Os fora da lei preparam as comidas mais gostosas da cidade, diz Zach Brooks, administrador do website Midtown Lunch, em artigo para o New York Times. Mais gostosas e mais baratas. Brooks comentou a explosão dos food trucks – os caminhões gastronômicos – em Nova York. A febre levou ao aumento de denúncias contra os trucks por donos de estabelecimentos tradicionais, que pagam impostos e aluguel.

O fenômeno dos high-end food trucks, caminhões mais sofisticados, foi criado em Los Angeles. Mas a comida de rua existe em Nova York há mais de 100 anos – quem consegue imaginar um nova-iorquino sem a opção de comer um cachorro-quente na calçada?

O fato é que as autoridades de Nova York permitem a presença dos food trucks, reservando-se o direito de tirá-los da rua quando bem entenderem. Zach Brooks pede paciência aos donos dos caminhões mais antigos. Uma hora, a moda passa e eles voltam a ser os fora da lei mais importantes da cidade.

Até porque será difícil sobreviver sem o halal chicken and lamb over rice (o vendido na esquina da Avenue of the Americas e 53rd Street, ao lado da Vênus de Milo, escultura de bronze de Jim Dine, é satisfação garantida).